História do Autismo no Mundo
História pré-científica, na França, início do século XX, foram descritas crianças chamadas de efants fadas – criança fada, criança que foi trocada por uma fada.
Nos contos de fada Irlandeses, há um personagem chamado de changeling, transmutado do humano. Seriam crianças raptadas por fadas ou gnomos, que deixavam em lugar das crianças um substituto fisicamente semelhante, porém com personalidade totalmente distinta. A mãe só começa a intrigar-se porque seu filho não é mais afetuoso, grita e agride, além de ignorá-la.
Na Escócia, esses raptores são chamados de sithbeire, na Suécia de borthyting e na Noruega skiptungr.
Na história científica pré – Kanner, em 1764/1844, John Haslan descreve um menino que após um sarampo severo e uma varíola discreta, foi descrito como hiperativo, insone, apresentou atraso no desenvolvimento motor e da linguagem, se mantinha distante das crianças de sua idade, apresentava ecolalia, agia como se fosse surda e de forma oposicional. Sua memória também impressionava Dr. Haslan.
Em 1801, foi encontrada nos bosques de Caine, na França um menino de 11 a 12 anos, esta criança caminhava na ponta dos pés, cheirava tudo que lhe fosse apresentado e não conseguia se comunicar.
Na Inglaterra, escritores britânicos introduziram o termo idiota na literatura. Etimologicamente, a palavra idyos vem do grego e significa “isolado, à parte”.
Em 1841, Joseph Conrad descreve uma criança que nunca sorria, não esticava os braços para a mãe, não falava, seus grandes olhos negros olhavam fixamente para tudo que brilhava.
A história científica do Autismo tem inicio em 1943, com a publicação do artigo “The Nervous Child”, de Leo Kanner. Neste artigo, Kanner descreve os sinais e sintomas do autismo: “inabilidade de se relacionar com pessoas e situações” desde o início da vida, “ solidão autística extrema” em relação a estímulos externos; “falha em assumir uma postura antecipatória”, “dificuldades em adquirir fala comunicativa” e “excelente memória em bloco”. Vários autores até hoje se referem ao Autismo como “ Sindrome de Kanner”, mas o autismo recebeu diferentes denominações, tais como Autismo Infantil Precoce, Autismo Infantil, Crianças Atípicas e até Psicose Infantil Precoce.
FONTE
Schwartzman, Transtornos do Espectro do Autismo, 2011.
Conceitos e Generalidade
O autismo é considerado um transtorno do desenvolvimento de causa neurobiológica, definido por critérios eminentemente clínicos. As características podem diferir de forma qualitativa ou quantitativa e afetam a interação social, a comunicação e o comportamento.
Até 1960, a causa do Autismo seriam inadequações ambientais, causadas por cuidados maternos impróprios. O interessante é que o próprio Kanner, ao final de seu artigo, admite que a precocidade tornaria a hipótese ambiental inviável, já propondo a hipótese biológica.
Assim, o conceito de Autismo se modificou, não somente no que diz respeito às possíveis causas, mas também no que se refere a suas conceituações.
Os estudos epidemiológicos sugerem taxas de Transtorno Autista de 7 – 13 casos por 10. 000 indivíduos. Vale ressaltar que, apesar da impressão de que as taxas de prevalência de TEA e TGD estejam aumentando, esse crescimento provavelmente representa, na verdade, mudanças nos conceitos e definições, somado a maior conhecimento por parte dos profissionais e população.
FONTE
Lima, Perturbações do Espectro do Autismo, 2012
Schwartzman, Transtornos do Espectro do Autismo, 2011.
Características e Transtornos Associados
Aproximadamente 25% das crianças com Transtorno do Espectro do Autismo apresentam deficiência intelectual na faixa moderada (QI de 35-50).
Seu perfil de habilidades cognitivas costuma ser irregular, independente do nível geral de inteligência (p. ex., uma criança de três anos pode ser capaz de ler, isto é, apresenta hiperlexia).
Os indivíduos com transtorno Autista podem apresentar uma gama de sintomas comportamentais, incluindo hiperatividade, desatenção, impulsividade, agressividade, comportamentos autoagressivos e, em crianças mais jovens, acessos de raiva. Respostas incomuns a estímulos sensoriais, por ex. alto limiar para dor, hipersensibilidade aos sons ou ao ser tocado e reação exagerada à luz. Podem ser observados seletividade alimentar e alterações do sono, despertares noturnos com balanço do corpo. Anormalidades do humor e afeto, ex. risada ou choro sem razão visível e uma aparente ausência de reação emocional.
Pode haver ausência de medo em relação a perigos reais e terror excessivo em resposta a objetos inofensivos. Uma variedade de comportamentos auto lesivos pode estar presente, ex. bater a cabeça e morder-se.
O Autismo pode estar associado a condições neurológicas ou outras condições médicas gerais, ex. encefalite, fenilcetonúria, esclerose tuberosa, síndrome do X frágil, anóxia durante o parto, rubéola materna.
FONTE
Schwartzman, Transtornos do Espectro do Autismo, 2011.
Neurobiologia dos Transtornos do Espectro do Autismo
A presença de anormalidades neurobiológicas, em muitos casos de TEA, não significa que tenhamos encontrado a causa do Autismo, mas sugere que, pela constância com que estes marcadores estão presentes, deva haver alguma relação entre as alterações do SNC observadas (marcadores) e os distúrbios comportamentais que caracterizam esta síndrome.
A pesquisa da literatura publicada sobre o TEA demonstra, de forma bastante convincente, que este se acompanha de indícios de desvio biológico. Porém estes indícios podem estar presentes em um grupo de pacientes, mas faltar em outros. E mesmo quando estas anormalidades estão presentes, uma relação causal direta entre elas e o quadro dos TEA não pode ser afirmado com certeza.
Assim, o TEA pode se associar com desarranjos neuronais, na conectividade cortical e nos neurotransmissores e, muito embora não tenham sido identificadas anormalidades, há evidencias que apontam para presença de fatores genéticos e ambientais.
FONTE
Surian, Autismo, 2011.
Schwartzman, Transtornos do Espectro do Autismo, 2011.
Medicação
O uso medicamento deve ser prescrito pelo médico, e é indicado quando existe alguma comorbidade neurológica e/ou psiquiátrica e quando os sintomas interferem no cotidiano. Mas vale ressaltar que até o momento não existe uma medicação específica para o tratamento de autismo. É importante que o médico informe sobre o que se espera da medicação, qual o prazo esperado para que se percebam os efeitos, bem como os possíveis efeitos colaterais.
FONTE
Ozonoff, S., Perturbação do Espectro do Autismo, 2003.
Ferrari, Autismo Infantil: O que é e como tratar.
Linguagem e Comunicação
Estudos dos TEA sinalizam para uma multiplicidade de alterações comportamentais, em que a linguagem está intimamente pautada às dinâmicas sociais e aos procedimentos recorrentes e reflete alterações cognitivas. Nos quadros de Autismo, a comunicação sinaliza as grandes diferenças entre os quadros, cujas qualidades são a heterogeneidade e os desvios qualitativos de desenvolvimento, principalmente ligadas a alterações na pragmática.
Estudos propõem que a dificuldade do Autismo está em seu modo especial de processar informações, em que a parte se sobrepõe ao todo. Argumentam que pessoas com TEA não constroem interpretações compreensíveis de situações, pois não integram informações a que estão expostos. Assim, seriam inaptos para fazer inferências que dependem do contexto e para identificar as relações de causa e efeito entre as ações. Teriam, assim, uma fragilidade na Coerência Central.
Outros pesquisadores sinalizam para as dificuldades de reconhecimento e planejamento de ações com base nas anomalias de desenvolvimento desta síndrome. Assim, consideram que as dificuldades para o aprendizado de informações novas, a utilização reduzida de pistas e informações do contexto, a pouca flexibilidade e planejamento para ações novas seriam falhas na função executiva e as relacionaram com a fragilidade da Coerência Central. Portanto, a fragilidade na Coerência Central é um estilo cognitivo específico do TEA e não estaria relacionada a déficits cognitivos.
Outros autores apontam para as inabilidades na relação social, comunicação e atividades imaginativas como subordinados à compreensão dos estados mentais dos outros, ou seja, “Teoria da Mente”. Inabilidades na “Teoria da Mente” irão interferir nas atividades comunicativas verbais e não verbais por toda vida em pessoas com TEA.
Estudos também descreveram dificuldades na compreensão e no uso pragmático dos marcadores de tempo e espaço, de expressões de estados mentais, de figuras de linguagem, e registraram o uso de expressões inapropriadas e gestos idiossincráticos, não encontrando relação entre estas dificuldades e o coeficiente intelectual dos TEA.
Estes estudos sinalizam que as etapas iniciais da linguagem são somente indicativas do desenvolvimento futuro, mas não projetam nem definem seu desenvolvimento.
FONTE
Schwartzman, Transtornos do Espectro do Autismo, 2011.
Brito, Transtorno do Espectro do Autismo e Fonoaudiologia, 2013.
Cancino, Transtornos do Desenvolvimento e da Comunicação, 2013.
Intergração Social
A terapeuta ocupacional Anne Jean desenvolveu a teoria de Integração Sensorial (IS), descobrindo as relações entre processamento sensorial, comportamento, aprendizagem e desenvolvimento.
Processamento Sensorial é uma função neurofisiológica responsável por registrar, organizar e interpretar informações sensoriais captadas pelo sistema sensorial. Nossos canais de recepção, os receptores proximais, captam sensações táteis, proprioceptivas, vestibulares, auditivas, visuais, gustativas e olfativas, as transformam em impulsos, são conduzidas ao córtex sensorial. Estas sensações, agora impulsos, são integradas para serem interpretadas e conduzidas ao córtex motor, assim recebendo o impulso e a interpretação, o córtex motor promove uma resposta que resulta em comportamento.
Nos Transtornos do Espectro do Autismo (TEA), os pesquisadores destacam três importantes aspectos, o primeiro é que os estímulos sensoriais não são registrados adequadamente; os estímulos percebidos não são modulados de forma adequada pelo SNC, principalmente no que diz respeito aos estímulos vestibulares e táteis e, por fim, inabilidade em integrar as muitas sensações do ambiente, consequentemente, falha na percepção espacial e dificuldade na interação com o ambiente. Padrões de resposta sensorial, como ex. padrões de hipo ou hiper- respostas coexistentes e flutuantes, que irão contribuir para os prejuízos de autocuidado, mobilidade e função social.
O Transtorno da Modulação Sensorial (TMS) afeta o nível de alerta pessoal, causando flutuação constante do estado de alerta e da disposição para sensibilização de novos estímulos, o que exerce impacto na experiência de novas sensações, resultando em um repertório pobre e repetitivo de respostas, que se tornam gradativamente mais ineficazes, mais pobres, menos funcionais e sem objetivo. Este comportamento pode ser observado na interação pobre de algumas crianças com TEA, não brincam de forma a nutrir o SNC, elas oferecem uma base de estímulos muito pobre para o desenvolvimento de estímulos, para o desenvolvimento de esquemas sensório – motores. Exemplos destes comportamentos são: balanceio de do corpo, tronco ou cabeça; reação de busca de esquiva a contato físico; movimento das mãos, dedos ou objetos em frente aos olhos; ação de cheirar objetos e pessoas próximas; autoagressões como morder-se, puxar os cabelos, baterem-se; movimentos intermitentes; alterações dos estados de sono-vigília; medo ou insegurança com relação a movimentos em situação de risco; emissão de sons intermitentes ou aversão a sons esporádicos; ausência de reação à dor; e brincadeiras repetitivas e não funcionais com objetos de apego.
O Transtorno da Modulação Sensorial (TMS) afeta três níveis: hiperresponsivo, hiporresponsivo e busca sensorial. A criança hiperresponsiva não consegue controlar a entrada sensorial, mantém-se com nível de alerta desequilibrado e emite comportamentos de recusa, na tentativa de afasta-se da informação sensorial desagradável, esta alteração provoca comportamentos como ex. recusa de alimentos com texturas e consistências diferenciadas; foge, chora e se irrita na hora do banho, ou durante a escovação dos destes e de autocuidado que provocam irritabilidade, agressividade e impulsividade em situações rotineiras como cortar as unhas, os cabelos, vestir-se, etc.
Quando a criança apresenta respostas intensas em condições de movimento, identifica-se “insegurança gravitacional” devido à hiperresposta a estímulos vestibulares e proprioceptivos que aparecem quando há desequilíbrio e deslocamento. A criança pode apresentar insegurança gravitacional em diversas situações ex. não aceitar brincadeiras de pular, saltar, correr, escalar; em situações como retirar os pés do chão para usar o vaso sanitário ou debruçar-se na pia para lavar o rosto, podem causar irritabilidade e choro, ou recusa. Crianças com TEA com defensividade sensorial têm maior probabilidade de apresentar comportamento de rigidez e inflexibilidade, verbalizações repetitivas e estereotipias visuais e afeto atípico.
Comportamento de alienação, isolamento, passividade e lentidão podem ser observados em crianças hiporresponsivas, que parecem não dirigir sua atitude a modificações ambientais ou à presença de novas informações sensoriais. Sintomas como diminuição de respostas a estímulos dolorosos e ausência ou lentidão na orientação a sons são comumente observados em crianças hiporresponsivas.
A busca sensorial é a necessidade de buscar estímulos mais intensos, com maior frequência para poder responder a eles. A criança deseja e busca mais informação, na tentativa de organizar seu comportamento, mas os resultados são comportamentos cada vez mais desorganizados, fazendo com que a mesma só encontre importância em informações sensoriais ligadas ao movimento, que irão levar a alterações atencionais que limitam seu aprendizado.
Pesquisas sinalizam que comportamentos repetitivos e estereotipados podem estar diretamente relacionados a padrões de busca sensorial, estas respostas não são adaptativas, parecem satisfazer à necessidade sensorial, mas de forma desorganizada e desintegrada. Assim, em situações que dificultam o movimento, realizadas na posição sentada ou que requerem atenção, estas crianças podem desencadear comportamentos do tipo ansioso, de agitação motora e de impulsividade; ou ainda movimentar os dedos, cantarolar ou emitir sons estranhos, manipular os olhos, a boca e os cabelos.
Os transtornos perceptivos se caracterizam por dificuldades na interpretação de propriedades gerais, temporais e espaciais de estímulos sensoriais.
No sistema vestibular ou proprioceptivo, estas crianças com dificuldades perceptivas podem ter problemas no equilíbrio, por não conseguirem identificar variações de postura, movimento, do solo (altura, obstáculo e estabilidade) e de orientação espacial. Quando estão comprometidas informações visuais, a criança pode ter dificuldades para parear objetos e diferenciar objetos, localizar e diferenciar cenários, mudar o foco de visão rapidamente, orientar-se por pistas visuais, reconhecer símbolos e gestos, diferenciar figura fundo, perceber profundidade, distância, e fazer análise de mapas e gráficos.
No sistema tátil, as alterações se caracterizam por problemas para explorar objetos, identificar texturas, escolha de roupas e utensílios de higiene pessoal, escolhas alimentares, por não conseguir discriminar preferências com o paladar.
Quando expostas a estímulos auditivos, podem confundir ruídos ambientais, apresentar dificuldades na orientação e localização sonora, seguir comandos verbais e conseguir orienta-se e seguir pistas verbais.
Os transtornos perceptivos geralmente vêm acompanhados de outras alterações sensoriais, e afetam a linguagem, a interação social, a integração bilateral e o desempenho escolar e de autocuidado.
O transtorno motor com base sensorial é a incapacidade para controlar o corpo em movimento e ou estabilizar posturas. Crianças com transtorno de postura geralmente possuem tônus rebaixado e postura caída e desalinhada, parecem cansadas, desequilibram-se facilmente, recostam-se para manter a postura ereta e o alinhamento na realização de atividades.
O termo “somatodispraxia” refere-se a dificuldades de planejar e executar atos motores, também a problemas para conceituar e formular um plano de ação. Estas dificuldades são identificadas nas dificuldades de generalização, podem ocorrer ideias rígidas, inflexíveis, perseverações, fuga ou desinteresse por situações novas. Estas inadequações vão refletir na execução de atividades cotidianas de autocuidado, manipulação de utensílios, coordenação motora fina, organização espacial, sequência e integração bilateral.
Dentre as inadequações sensoriais as crianças com Transtorno Invasivo do Desenvolvimento, e que afetam seu desempenho ocupacional, destacam-se os transtornos de modulação, tipo responsivo, hiporresponsivo e busca sensorial. Todos os princípios da Integração Sensorial devem ser adaptados às crianças com TEA, devendo estar atento a comportamentos de desorganização e instabilidade emocional.
FONTE
Schwartzman, Transtornos do Espectro do Autismo, 2011.
Síndrome de Asperger
A Síndrome de Asperger caracteriza-se por prejuízo na interação social, interesses e comportamentos limitados, mas seu curso de desenvolvimento está marcado por alterações significativas no desenvolvimento da linguagem ou em sua percepção, no desenvolvimento cognitivo, nas habilidades de autocuidado e na curiosidade acerca do ambiente.
Em 1944, Hans Asperger, um pediatra austríaco com interesse em educação especial, descreveu quatro crianças que tinham dificuldades na interação social, denominando esta condição de “psicopatia autística”. Mesmo com habilidades intelectuais preservadas, estas crianças exibiam pobreza de linguagem não-verbal, empatia e uma disposição para intelectualizar as emoções, fala prolixa, em monólogo e às vezes incoerente e tendendo ao formalismo “pequenos professores”, foco de atenção em tópicos não usuais e incoordenação motora. Ao contrario das crianças de Kanner, estas não eram tão retraídas ou alheias.
Somente em 1970, foram feitas as primeiras comparações entre as pesquisas de Kanner e Hans, especialmente pelo pesquisador holandês, Van Krevelen, estas tentativas iniciais de comparação foram difíceis, porque Asperger foi influenciado por relatos de esquizofrenia e transtornos de personalidade e Hans por Gesell e sua abordagem desenvolvimentista.
Em função da falta de definição diagnóstica, sua prevalência é desconhecida, ainda que tenham sido publicadas prevalências de 2 a 4 em 10.000. Não há controvérsias sobre sua maior incidência afetando o sexo masculino, 9 para 1.
Contrastando com a representação social no Autismo, pessoas com AS encontram-se socialmente isolados, mas não inibidos na presença dos demais. Corriqueiramente, eles aproximam-se das pessoas, mas de forma inadequada e excêntrica, ex. pode estabelecer com um interlocutor, geralmente um adulto, uma conversa em monólogo, caracterizada por uma linguagem prolixa, pedante, sobre um tópico favorito, não usual e bem delimitado. Suas abordagens desajeitadas e insensibilidade em relação aos sentimentos e intenções dos demais, são normalmente mal sucedidas, podendo levar a transtornos de humor e ansiedade, requerendo intervenção, incluindo medicação.
Podem ser capazes de descrever as emoções de forma cognitiva, mas são incapazes de atuar com estas informações de forma intuitiva e espontânea, perdendo, portanto o ritmo da interação. Esta falta de intuição e de adaptação espontânea é acompanhada de um notável apego às regras formais de comportamento e às rígidas convenções sociais.
Este perfil é responsável por sua impressão de ingenuidade social e rigidez comportamental.
As alterações da linguagem não são comuns na AS, porém existem três aspectos que necessitam ser avaliados. Sua linguagem pode apresentar uma prosódia pobre, exibição de perdões restritos de entonação (fala rápida), falta de fluência (fala entrecortada) e pobreza de modulação (voz muito alta apesar da proximidade do interlocutor). Falta de contextualização da fala, ou seu uso de forma tangencial e circunstancial, transmitindo um sentido de frouxidão de associação e incoerência, ainda que em pequeno número, estes sintomas podem ser indicativos de transtornos de pensamento.
Crianças e adultos com AS podem falar de forma incansável sobre seu assunto favorito, sem identificar se seu interlocutor está interessado sobre seu assunto favorito, e apesar destes monólogos prolixos, podendo não chegar a uma conclusão, as tentativas do interlocutor de elaborar comentários ou mudar de tópico são normalmente frustradas.
Estas pessoas ainda podem acumular grande quantidade de informações factuais sobre um tópico (dinossauros, cobras, nomes de estrelas, guias de programação, informações sobre o tempo), que podem alterar-se com o tempo, mas dominam os conteúdos das interações sociais, ficando mais bizarros e com foco mais restrito com a idade.
Pode ainda ter uma história de aquisição motora atrasada, ex. andar de bicicleta, abrir garrafas, crianças em brinquedos de parquinho. São visivelmente desajeitadas, têm coordenação pobre, podendo exibir padrões de andar arqueado ou aos saltos.
Do ponto de vista neuropsicológico, exibem padrões elevados de habilidades auditivas e verbais e aprendizado repetitivo, e dificuldades nas habilidades visuomotoras e visuoperceptuais, e no aprendizado de conceitos.
Quanto a seu curso e prognóstico, existem poucos estudos sistemáticos de acompanhamento a longo prazo de crianças com AS, muitas destas pessoas frequentam a escola regular, mas com apoio de serviço adicional, outras precisam de acompanhamento psicoeducacional devido a dificuldades sociais e comportamentais. Asperger sempre acreditou que desfecho mais positivo era um critério de para diferenciar as pessoas com síndrome de Asperger do que os Autistas de Kanner.
FONTE
Schwartzman, Transtornos do Espectro do Autismo, 2011.
Klin, A., Autismo e síndrome de Asperger: uma visão geral, 2008.
Rivera, F. B., Breve Revisión Histórica Del Autismo, 2011.
Camargo Jr, Síndrome de Asperger e Outros Transtornos do Espectro do Autismo, 2013.
Transtorno do Espectro Autista
As características essenciais do Transtorno do Espectro Autista (TEA) são prejuízos persistentes na comunicação social recíproca, na interação social, padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades. Esses sintomas estão presentes desde o início da infância e limitam ou prejudicam o funcionamento diário. O estágio em que o prejuízo funcional fica evidente irá variar de acordo com características do indivíduo e seu ambiente. Manifestações do transtorno também variam muito dependendo da gravidade da condição autista, do nível de desenvolvimento e da idade cronológica, daí o uso do termo espectro. O transtorno do espectro autista engloba transtornos antes chamados de autismo infantil precoce, autismo infantil, autismo de Kanner, autismo atípico, transtorno global de desenvolvimento sem outra especificação, transtorno desintegrativo da infância e transtorno de Asperger.
Os diagnósticos são mais validos e confiáveis quando baseados em múltiplas fontes de informação, incluindo observações do clínico, história do cuidador e, quando possível autorrelato. Déficits verbais e não verbais na comunicação social têm manifestações variadas, dependendo da idade, do nível intelectual e da capacidade linguística do indivíduo, bem como de outros fatores como história de tratamento e apoio atual. Muitos indivíduos têm déficits de linguagem, as quais variam de ausência total da fala, passando por atraso na linguagem, compreensão reduzida da fala, fala em eco até linguagem explicitamente literal ou afetada. Mesmo quando habilidades linguísticas formais estão intactas (vocabulário, gramática), o uso da linguagem para comunicação social recíproca está prejudicando no transtorno do espectro autista.
Déficits na reciprocidade sócio emocional (capacidade de envolvimento com outros e compartilhamento de ideias e sentimentos) estão claramente evidentes em crianças pequenas com o transtorno, que podem apresentar pequena ou nenhuma capacidade de iniciar interações sociais e de compartilhar emoções, além de imitação reduzida ou assente do comportamento de outros. Havendo linguagem, costuma ser unilateral, sem reciprocidade social, usada mais para solicitar ou rotular do que para comentar, compartilhar sentimentos ou conversar.
Um aspecto precoce do transtorno do espectro autista é a atenção compartilhada prejudicada, manifestado por falta do gesto de apontar, mostrar ou trazer objetos para compartilhar interesse com outros ou dificuldade para seguir o gesto de apontar ou de olhar indicador de outras pessoas. Os indivíduos podem aprender alguns poucos gestos funcionais, mas seu repertório é menor do que o de outros e costumam fracassar no uso de gestos expressivos com espontaneidade na comunicação.
O TEA também é definido por padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades que mostram uma gama de manifestações de acordo com a idade e a capacidade, intervenções e apoios atuais. Comportamentos estereotipados ou repetitivos incluem estereotipias motoras simples (abanar as mãos, estalar os dedos), uso repetitivo de objetos (girar moedas, enfileirar objetos) e fala repetitiva (ecolalia, repetição atrasada ou imediata de palavras ouvidas , uso de “tu” ao referir-se a si mesmo, uso estereotipado de palavras ou frases). Adesão excessiva de rotinas e padrões restritos de comportamento podem ser manifestados por resistência a mudanças. Reações extremas ou rituais envolvendo gosto, cheiro, textura ou aparência da comida ou excesso de restrições alimentares são comuns, podendo construir a forma de apresentação transtorno do espectro autista.
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5 – Porto Alegre 2014
CARACTERÍSTICAS ASSOCIADAS QUE APOIAM O DIAGNÓSTICO
Muitos indivíduos com transtorno do espectro autista também apresentam comprometimento intelectual e/ ou da linguagem (atraso na fala, compreensão da linguagem aquém da produção). Mesmo aqueles com inteligência média ou alta apresentam um perfil irregular de capacidades. A discrepância entre habilidades funcionais adaptativas e intelectuais costuma ser grande. Déficits motores estão frequentemente presentes, incluindo marcha atípica, falta de coordenação e outros sinais motores anormais (ex. caminhar na ponta dos pés). Pode ocorrer autolesão e comportamentos disruptivos, adolescentes e adultos com TEA são propensos a ansiedade e depressão. Alguns indivíduos desenvolvem comportamento motor semelhante à catatonia (lentificação e “congelamento” em meio a ação) embora isso tipicamente não costume alcançar a magnitude de um episódio catatônico. O período de risco da catatonia comórbida parece ser maior nos anos de adolescência.
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5 – Porto Alegre 2014
DESENVOLVIMENTO E CURSO
A idade e o padrão de início também devem ser observados para o transtorno do espectro autista. Os sintomas costumam ser reconhecidos durante o segundo ano de vida (1 a 24 meses), embora possam ser vistos antes dos 12 meses de idade, se os atrasos do desenvolvimento forem graves, ou percebidos após os 24 meses, se os sintomas forem mais sutis.
Os primeiros sintomas do TEA frequentemente envolvem atrasos no desenvolvimento da linguagem, em geral acompanhado por ausência de interesse social ou interações sociais incomuns (puxar as pessoas pela mão sem nenhuma intenção tentativa de olhar para elas), padrões estranhos e brincadeiras (carregar brinquedos, mais nunca brincar com eles), e padrões incomuns de comunicação (conhecer todo o alfabeto porém não responder ao próprio nome). Durante o segundo ano, comportamentos estranhos e repetitivos e ausência de brincadeiras típicas tornam-se mais evidentes.
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5 – Porto Alegre 2014