Deficiência Intelectual

Deficiência Intelectual

A Deficiência Intelectual, segundo a Associação Americana sobre Deficiência Intelectual do Desenvolvimento, caracteriza-se por um funcionamento intelectual inferior à média (QI), associado a limitações adaptativas em pelo menos duas áreas de habilidades (comunicação, autocuidado, vida no lar, adaptação social, saúde e segurança, uso de recursos da comunidade, determinação, funções acadêmicas, lazer e trabalho), que ocorrem antes dos 18 anos de idade.

Sua prevalência, considerando-se um quociente intelectual (QI) abaixo de 50. Ao redor de 3 a 4 para 1.000 pessoas, e estimando-se a deficiência mental leve (QI de 50 a 70) ocorre em 2% a 3% das pessoas.

Principais tipos de deficiência intelectual

Entre os inúmeros fatores que podem causar a deficiência intelectual, destacam-se alterações cromossômicas e gênicas, desordens do desenvolvimento embrionário ou outros distúrbios estruturais e funcionais que reduzem a capacidade do cérebro.

Síndrome Williams

Alteração genética que causa deficiência intelectual de leve a moderada. A pessoa apresenta comprometimento maior da capacidade visual e espacial em contraste com um bom desenvolvimento da linguagem oral e na música.

Síndrome de Angelman

Distúrbio neurológico que causa deficiência intelectual, comprometimento ou ausência de fala, epilepsia, atraso psicomotor, andar desequilibrado, com as pernas afastadas e esticadas, sono entrecortado e difícil, alterações no comportamento, entre outras.

Síndrome do X-Frágil

Alteração genética que provoca atraso mental. A criança apresenta face alongada, orelhas grandes ou salientes, além de comprometimento ocular e comportamento social atípico, principalmente timidez.

Síndrome de Down

Alteração genética que ocorre na formação do bebê, no início da gravidez. O grau de deficiência intelectual provocado pela síndrome é variável, e o coeficiente de inteligência (QI) pode variar e chegar a valores inferiores a 40. A linguagem fica mais comprometida, mas a visão é relativamente preservada. As interações sociais podem se desenvolver bem, no entanto podem aparecer distúrbios como hiperatividade, depressão, entre outros.

Síndrome de Prader-Will

O quadro clínico varia de paciente a paciente, conforme a idade. No período neonatal, a criança apresenta severa hipotonia muscular, baixo peso e pequena estatura. Em geral a pessoa apresenta problemas de aprendizagem e dificuldade para pensamentos e conceitos abstratos.

Erros Inatos de Metabolismo (Fenilcetonúria, Hipotireoidismo congênito etc.)

Alterações metabólicas, em geral enzimáticas, que normalmente não apresentam sinais nem sintomas sugestivos de doenças. São detectados pelo Teste do Pezinho, e quando tratados adequadamente, podem prevenir o aparecimento de deficiência intelectual. Alguns achados clínicos ou laboratoriais que sugerem esse tipo de distúrbio metabólico: falha de crescimento adequado, doenças recorrentes e inexplicáveis, convulsões, atoxia, perda de habilidade psicomotora, hipotonia, sonolência anormal ou coma, anormalidade ocular, sexual, de pelos e cabelos, surdez não explicada, acidose láctea e/ou metabólica, distúrbios de colesterol, entre outros.

Deficiência Intelectual x Doença Mental
Muita gente confunde Deficiência Intelectual e doença mental, mas é importante esclarecer que são duas coisas bem diferentes.

 

Causas

A Deficiência Intelectual é resultado, quase sempre, de uma alteração no desempenho cerebral, provocada por fatores genéticos, distúrbios na gestação, problemas no parto ou na vida após o nascimento. Um dos maiores desafios enfrentados pelos pesquisadores da área é que em grande parte dos casos estudados essa alteração não tem uma causa conhecida ou identificada. Muitas vezes não se chega a estabelecer claramente a origem da deficiência.

Principais causas
Os fatores de risco e causas que podem levar à Deficiência Intelectual podem ocorrer em três fases: pré-natais, perinatais e pós-natais.

Pré-natais
Fatores que incidem desde o momento da concepção do bebê até o início do trabalho de parto:
Fatores genéticos
• Alterações cromossômicas (numéricas ou estruturais) – provocam Síndrome de Down, entre outras.
• Alterações gênicas (erros inatos do metabolismo): que provocam Fenilcetonúria, entre outras.
Fatores que afetam o complexo materno-fetal
• Tabagismo, alcoolismo, consumo de drogas, efeitos colaterais de medicamentos
teratogênicos (capazes de provocar danos nos embriões e fetos).
• Doenças maternas crônicas ou gestacionais (como diabetes mellitus).
• Doenças infecciosas na mãe, que podem comprometer o feto: sífilis, rubéola, toxoplasmose.
• Desnutrição materna.

Perinatais
Fatores que incidem do início do trabalho de parto até o 30.º dia de vida do bebê:
• Hipóxia ou anoxia (oxigenação cerebral insuficiente).
• Prematuridade e baixo peso: Pequeno para Idade Gestacional (PIG).
• Icterícia grave do recém-nascido (kernicterus).

Pós-natais
Fatores que incidem do 30.º dia de vida do bebê até o final da adolescência:
• Desnutrição, desidratação grave, carência de estimulação global.
• Infecções: meningites, sarampo.
• Intoxicações exógenas: envenenamentos provocados por remédios, inseticidas, produtos químicos como chumbo, mercúrio etc.
• Acidentes: trânsito, afogamento, choque elétrico, asfixia, quedas etc.

 

Diagnóstico Diferencial

Na Deficiência Intelectual a pessoa apresenta um atraso no seu desenvolvimento, dificuldades para aprender e realizar tarefas do dia a dia e interagir com o meio em que vive. Ou seja, existe um comprometimento cognitivo, que acontece antes dos 18 anos, e que prejudica suas habilidades adaptativas.

Já a doença mental engloba uma série de condições que causam alteração de humor e comportamento e podem afetar o desempenho da pessoa na sociedade. Essas alterações acontecem na mente da pessoa e causam uma alteração na sua percepção da realidade. Em resumo, é uma doença psiquiátrica, que deve ser tratada por um psiquiatra, com uso de medicamentos específicos para cada situação.

FONTE
Assumpção, F. B. e Sprovieri, M. H., Introdução ao Estudo da Deficiência Mental, 1991.

Freitas, A. F., Soares, F. A. e Pereira, E. T., 2010.

 

Características Associadas que Apoiam o Diagnóstico

O transtorno do Desenvolvimento Intelectual inclui déficts funcionais, tanto intelectuais quanto adaptativos, nos domínios conceitual, social e prático.
A deficiência intelectual é uma condição heterogênea com múltiplas causas. Pode haver dificuldades associadas ao juízo social, a avaliação de riscos, ao autocontrole do comportamento, emoções ou relações interpessoais, ou a motivação na escola ou nos ambientes de trabalho. Falta de habilidades de comunicação pode predispor a comportamentos disruptivos ou agressivos. A credulidade costuma ser uma característica, envolvendo ingenuidade em situações sociais e tendência a ser facilmente conduzido pelos outros. Credulidade e falta de consciência sobre riscos podem resultar em exploração por outros e possível vitimização, fraude, envolvimento criminal não intencional, falsas confissões e risco de abuso físico e sexual.
Pessoas com diagnóstico de deficiência intelectual, com transtornos mentais comórbidos apresentam risco de suicídio. Elas pensam e fazem tentativas de suicídio em decorrência da falta de consciência de riscos e perigos, as taxas de lesões acidentais podem ser elevadas.
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5 – Porto Alegre 2014

PREVALÊNCIA

A deficiência intelectual tem uma prevalência geral na população como um todo de cerca de 1% com variações em decorrência da idade. A prevalência de deficiência intelectual grave é de cerca de 6 por 1.000.
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5 – Porto Alegre 2014

DESENVOLVIMENTO E CURSO

Idade e aspectos característicos no início dependem da etiologia e da gravidade da disfunção cerebral. Atrasos em marcos motores, linguísticos e sociais podem ser identificáveis nos primeiros dois anos de vida entre aqueles com deficiência intelectual mais grave, ao passo que níveis leves podem não ser identificados até a idade escolar, quando ficam aparentes as dificuldades de aprendizagem acadêmica. Algumas crianças com menos de 5 anos de idade, cuja apresentação atenderá aos critérios de deficiência intelectual, tem déficits que satisfazem a critérios de atraso global do desenvolvimento.
Quando a deficiência intelectual está associada a uma síndrome genética, pode haver uma aparência física característica (como na Síndrome de Down). Algumas síndromes tem um fenótipo comportamental, o que se refere a comportamentos específicos, característicos de determinado transtorno genético. Nas formas adquiridas, o aparecimento pode ser abrupto, após doenças como meningite, encefalite ou traumatismo encefálico durante o período do desenvolvimento. Quando a deficiência intelectual decorre de perda de habilidades cognitivas previamente adquiridas, como em lesões cerebrais traumáticas, pode ser atribuído tanto diagnóstico de deficiência intelectual quanto o de um transtorno neurocognitivo.
Embora a deficiência intelectual em geral não seja progressiva, em algumas doenças genéticas (Síndrome de Rett por exemplo) há períodos de piora seguidos de estabilização, e , em outras (Síndrome de San Phillippo por exemplo), ocorre piora progressiva da função intelectual. Depois da primeira infância, o transtorno costuma perdurar por toda a vida, ainda que os níveis de gravidade possam mudar ao longo do tempo.
Intervenções precoces e continuadas podem melhorar o funcionamento adaptativo na infância e na vida adulta. Em alguns casos, ocorre melhora significativa da função intelectual, até tornando o diagnóstico de deficiência intelectual não mais apropriado. Desse modo, é prática comum ao avaliar bebês e crianças pequenas ocultar o diagnóstico de deficiência intelectual para até depois de um curso apropriado de intervenção ter sido proporcionado. Em crianças mais velhas e adultos, o nível de apoio oferecido é capaz de possibilitar a completa participação em todas as atividades cotidianas e melhora na função adaptativa.
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5 – Porto Alegre 2014

FATORES DE RISCO E PROGNÓSTICO
Genéticos e fisiológicos – Etiologias pré-natais incluem síndromes genéticas (ex: variações na sequência ou variações no número de cópias envolvendo um ou mais genes, problemas cromossômicos), erros inatos do metabolismo, malformações encefálicas, doença materna (inclusive doença placentária) e influências ambientais (álcool, outras drogas, toxinas, teratógenos).
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5 – Porto Alegre 2014

QUESTÕES DISGNÓSTICAS RELATIVAS AO GÊNERO
Individuos do sexo masculino, em geral, têm mais propensão do que o sexo feminino para receber diagnóstico de forma moderados (razão média masculino / feminino 1,6:1) e graves (razão média masculino / feminino 1,2:1) de deficiência intelectual. As proporções de gênero, todavia, variam muito em estudos relatados. Fatores genéticos associados ao sexo e vulnerabilidade do sexo masculino a lesões no cérebro podem responder por algumas diferenças de gênero.
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5 – Porto Alegre 2014

COMORBIDADE
A ocorrência concominante de condições mentais, de neurodesenvolvimento, médicas e físicas é frequente na deficiência intelectual, com taxas de algumas condições (exemplo: transtornos mentais, paralisia cerebral e epilepsia) 3 a 4 vezes mais altas que na população em geral. O prognóstico e o resultado de diagnósticos comórbidos podem ser influenciados pela presença da deficiência intelectual. Os procedimentos de avaliação podem demandar mudanças em função dos transtornos associados, tais como transtornos da comunicação, transtorno do espectro autista e transtornos motores, sensoriais e outros. Informantes são essenciais para a identificação de sintomas como irritabilidade, desregulação do humor, agressividade, problemas alimentares e problemas do sono, bem como para a avaliação da função adaptativa em locais variados na comunidade.
Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais: DSM-5 – Porto Alegre 2014